quarta-feira, 19 de setembro de 2007

poesia...


Num rancho de chão batido
O velho, moribundo e isolado
Descansa seu corpo já decadente
Mate amargo levado a boca
Espera a morte para um último trago


Carlito d'el Tango
Sobre dois tipos de dores

“Na escala das criaturas, só o homem pode inspirar um nojo constante” (E.M.Cioran)

As pequenas dores que sentimos na carne, como nos atormentam! Vivemos a reclamar dessas dores com todos aqueles que encontramos pela frente, faça chuva ou faça sol.
Reclamamos tanto que chega até parecer que somos os únicos sofredores autênticos do planeta, e a ninguém mais é dada esta “Benção” divina ou infernal.
Mas essas dores são passageiras, senhoras e senhores dolorosos. Basta um ou dois comprimidinhos, uma ou duas aspirinas, algumas gotinhas milagrosas de um tônico qualquer e o mundo deixa de ser um peso, e a vida perde aquele gosto amargo que tanto a torna insuportável, e o sonhar com a navalha dissipa-se com o vento morno da madrugada.
Como vêem, não somos os “Bem-afortunados” que pensamos ser. Junto a nós está uma multidão incontável de doloríveis e queixosos de Platão, que atormentam-se no suicídio.
Mas o que são essas cócegas que insistimos em chamar de dor, perto das grandes atribulações do espírito, daquela ferida infinda na alma que torna os dias pesados como chumbo e faz com que qualquer luz se transforme em algo oprimente e torturante?
Nada vezes nada.
Quantos de vocês, das dores simples, já olharam para a vida e chegaram à conclusão de que tudo é vão?
Quantos de vocês têm a consciência da agonia do mundo? Quantos de vocês conhecem realmente esta morada onde sufocamos? A dor que acreditam ser imensa lhes de fazer uso da metafísica. A “Dor” que sentem está muito próxima das farmácias. É uma dor de fanfarrões.
Mas há nas farmácias algo específico contra a dor vazia da existência?

A . D. Gluzezak

O sonho com Che


Você pode não acreditar, mas vou contar assim mesmo. Eu troquei uma idéia com Che Guevara! Vá lá que foi num sonho, mas isso é mero detalhe. Ernesto e eu conversamos no Universo paralelo do sono, em meio a cordeirinhos e monstros do escuro. Perto de um campo de cogumelos vermelhos socialistas, nós sentamos e proseamos por um tempo. Não tô nem aí se você não bota fé, mas ele tava lá, com o charuto, a boina na cabeça e tudo mais:

-E dae barbudo, tudo certo aí no outro mundo?
- Si, si... tudo tranquilo. Acabamos de hacer una revolucion para Ele liberar los charutos e la tequila. Agora está melhor.
- Mas você tá no andar de cima ou no de baixo?
- (Após um longo silêncio...) Não hablemos disto amigo. Quiero saber como vão as coisas em la Terra querida.
- Bom, o capitalismo ainda reina absoluto por aquelas bandas.
- Diablos!!
- Por isso não preciso nem dizer que a desigualdade social e a diferença entre as classes só aumentou.
- Pero, e la revolucion? E la esquerda?
- Xi Che, se eu contar você não acredita. Aqui no Brasil, a esquerda está no poder...
- (Interrompendo bruscamente) Viva! Las coisas começaram a mudar!
- Mas não se anime muito não. Tem até um ex-presidente do Bank Boston chefiando o Banco Central brasileiro.
- Pero então abriram las pernas?
- Pois é, continuamos com o mesmo neoliberalismo do governo anterior.
- E lo povo? Não discorda, não protesta?
- O povo está domesticado. A grande imprensa acha que o governo está sendo “sensato” e fazendo tudo certo, pois, segundo os algozes jornalísticos não haveria outra alternativa. Obvio não é?
- Los interesses amigo. Sempre los interesses...
- Mas nem tudo é má notícia! Sua foto está estampada nas camisetas! Está na moda usar uma camiseta do Che Guevara. Meninos, meninas, todo mundo usa!
- Pero então la revolucion ainda és possible! Vamos à luta companheiro! (puxa o megafone e a espingarda...) Abaixo lo capitalismo! Abaixo lo capitalismo!
- Calma , calma. O problema é que quem criou essa moda foram umas grifes de roupas famosas. Então quem usa é quem tem dinheiro, sabe?
- Hã!?
- Não estão muito preocupados com a ideologia que elas representam, mas com a imagem que a camiseta lhes dá.
- Está en la moda parecer rebelde?
- É. Mas daí para tomar alguma atitude...
- (irritado) Pero quanto custam las camisetas?
- Olha, alguns pagam até meio salário minímo por elas.
- (gritando) Hija de la puta! Los capitalistas estão ganhando mais dinheiro com mi foto!! Yo virei ícone capitalista!
- Pra você ver...
- (baforando o charuto, pensativo) Prefiro la muerte!

Emiliano Del Arge.