sábado, 28 de junho de 2008

* * *


Chega o frio...

Os dias quentes se foram. Chega o frio.
As manhãs amanhecem geladas.
As tardes, continuam.
A noite cai, fria também.
Todos se recolhem, menos o poeta.
Este sai, bebericando algum trago
Envolto a neblina que cai.
E nós, submetemo-nos ao medo.
Medo de sentir gelar a alma
E de não voltar ao gosto d’antes.
Toleramos o verão para não amarmos o inverno.
Já não estamos nas ruas, sujeitos aos caprichos do tempo.
Vivemos acolhidos e escondidos em casa,
Na proteção do abrigo,
Debaixo d’um teto sem céu sem chuva.
Quietos e conformados. Contentes com tudo.
Pois chega o frio...
Sob tudo, dentro de nós.

Herman G. Silvani (Niko)



Castelos, Máscaras e(ventos)...

O último tijolo fora erigido.
O castelo estava pronto. Onipotente a aristocracia procurava os melhores costureiros do reino, jóias foram lapidadas, compradas, emprestadas...
Tudo cuidadosamente organizado, pensado...
A sujeira há longo tempo vinha sendo eliminada, as esmolas proibidas, os muros pintados.
Mendigos, viciados, loucos de toda ordem encaminhados a feudos distantes... o reino estava limpo.
Em uníssono a imprensa real divulgava o estado das coisas.
Uma alvura angelical e hostil reinava, pacificamente sobre o império.

Antonomasia

sábado, 14 de junho de 2008

POESIA VERTIGEM apresenta:

* Poesias autorais & de poetas catarinenses - & música

dia 21/06, sábado
19:30h
na Feira do Livro
Centro de Eventos

* Poesias sobre poetas, poemas & afins - & música

dia 27/06, sexta-feira
19:30
na Feira do Livro
Centro de Eventos

"Os poemas não evitam guerras nem curam a gripe, mas ajudam a suportá.las."
(Efraim Medina Reyes)

terça-feira, 3 de junho de 2008

Receio


A escuridão cai silenciosa
Em qualquer esquina acontece a noite
Ela sai acompanhada do medo
Companhia desagradável mas sincera
Com um único pensamento, continua
Passos largos, corpo trêmulo
Frio em pleno verão...

A mão do aperto-de-mão
É a mesma que puxa o gatilho

Carlito d'El Tango


uma música-poesia do Cordel do Fogo Encantado:

Sobre As Folhas (ou Barão Nas Árvores)

Contarei a história do barão
Que comia na mesa com seu pai
Era herdeiro primeiro dos currais
Mas gritou no jantar: "Não quero nada!"
Nesse dia subiu num grande galho
Nunca mais o barão pisou na terra

Passou anos e anos na floresta
Andou léguas e léguas sobre as folhas
Construiu sua casa feito ninho
Beijou sua mulher perto das nuvens
Um concreto bordado nas alturas
Com manobras de amor no precipício

Quando amanheceu entre dois prédios
De pastilhas brancas e tantos andares,
Um guindaste bem mais distante,
A luz, a sombra, a luz vermelha da roupa da aurora

Soube nessa madrugada

Do homem que não quis os minérios do pai
Que não quis os segredos farpados da mãe
Subiu numa planta, no alto da pedra, bem perto daqui
E ficou por lá.

José Paes de Lira

Literatura de bordel

Escrever e tomar vinho já não é mais característica de intelectual. Também barba cumprida e um alfarrábio entre os braços não caracterizam o mestre. Meu amigo foi taxado de louco após ser visto queimando um calhamaço que havia escrito no fim de semana. Perguntavam sem parar porque escrever se depois iria queimar!
Até era legível seus escritos, mas, era um escritor sem leitores.
Poderia certamente, com uma boa divulgação do material, ganhar alguns; mas não o quis: preferia queimar aquele emaranhado de letras em folha branca.

Dia após dia acordava cedo somente para escrever versos e prosas. Nos finais de semana sorria cinicamente ao ver a fumaça subir; parecia que conseguia ler nela toda verborragia que delirara ao longo de sete dias.

Marcio Serpa.



Quando chove

Ainda que eu não te tenha
Sou parte clandestina em ti,
E quando me olho no espelho,
No fundo do meu olho,
Vejo tua imagem soturna,
Eterna e distante.

Beijo tua boca
Cada vez que alguém te beija.
Deito em ti
Cada vez que alguém te deita.
Quando chora, sou aquele
Que te abraça,
E quando chove,
Como uma planta que se alegra,
Sou eu, um homem que sorri...

Pois você ressurge nas lembranças
Que descansam em mim.

Herman G. Silvani (Niko)