sábado, 26 de abril de 2008

* poesia *

Quisera eu ter, de um golpe, a infância dantes,

pra não passar p'la vida em mortes lentas...

Como quem mira, ao longe, as grãs tormentas

Temendo o palco a amores claudicantes.


Quisera eu ter na face o ardor dos erros,

As densas marcas que a beleza entalha,

A ser, aos chamarizes da mortalha,

um leito firme a abrigar enterros...


Quisera em meus afãs crepusculares,

Gravar o viço matinal dos cheiros:

Embevecer-me em nardos, sóis trigueiros,

Sacar das flores mádidos colares!


Quisera eu ter a púrpura dos beijos,

Rumorejando assomos de outras vidas,

A ter de perdurar nestas feridas

Que pintam em meus lábios graves pejos.


Quisera entardecer nas invernadas,

Cevando os olhos co'as idades todas,

Ser moço à vida já saudando as bodas,

Ser velho à morte em noites já veladas.


Quisera dedilhar num só momento,

Co'a rubra timidez dos meus anseios,

Sonetos de alegrias muito cheios,

Capazes de cessar o embotamento.


Quisera o pranto a selar este anelo:
Enfim, livrar-me do mordaz ditame
Dos que hoje vivem, neste berço infame,
Cultuando o Vício e conspurcando o Belo!


(Marlon Macarini)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Vertigem pelo ar...


* Edes, Marlon, Vanessa, Liza, Herman & Rodrigo
- Grupo Poesia Vertigem -


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Poesia Vertigem em apresentação:


¨poesia brasileira & música...

25 de abril - sexta
UnoChapecó - bloco G

* 8h
evento de Jornalismo & comunicação

¨

No fundo do poço e cavando
é onde o poeta está.
Encontrar ela, a poesia,
sua busca eterna...

Poesia, a água que não vêm!

Poeta, com as mãos enterradas no lodo,
ébrio e divino e louco,
o que sempre se arrisca,
pois arriscado é viver,
e viver é saber a poesia nas coisas,
o mais, é apenas existir.

...e o poeta continua
em busca da poesia que lhe escapa entre os dedos.


Carlito d'El Tango



Lorenço choveu

Meu amigo Lorenço, ébrio e louco
Num dia cinza de outono
Pôs-se a imitar a chuva

Não sabia ele que não chovia
Pois acreditava na chuva
A chuva que não caía

Meu velho amigo bêbado
Soprava o ar com seu bafo quente
Fétido, úmido e mais velho do que ele

Mas Lorenço não sabia chover
Para ele a chuva cantava
Para ele a chuva passada não havia passado

Até que dormiu e choveu
E o som da chuva
Misturou-se com o da sua respiração

Lorenço finalmente choveu!


Herman G. Silvani (Niko)

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Deshojacion Sagrada

Luna! Corona de una testa inmensa,  
que te vas deshojando en sombras gualdas!  
Roja corona de un Jesús que piensa  
trágicamente dulce de esmeraldas!  
  
Luna! Alocado corazón celeste  
¿por qué bogas así, dentro de copa  
llena de vino azul, hacia el oeste,  
cual derrotada y dolorida popa?  
  
Luna! Y a fuerza de volar en vano,  
te holocaustas en ópalos dispersos:  
tú eres tal vez mi corazón gitano  
que vaga en el azul llorando versos!...

Cesar Vallejo

'um poema luminoso'...

Quatro horas da tarde/ O poeta sai de casa com uma aranha nos cabelos./ Em febre. Arde./ E a falta de cigarros faz-lhe os olhos mais velhos.// Segue por esta, por aquela rua/ sem pressa de chegar seja onde for./ Pára. Continua./ E olha a multidão, suavemente, como horror.// Entra no café:/ Abre um livro fantástico, impossível./ Mas não lê./ Trabalha - numa música secreta, inaudível.// (...) Sai de novo para o mundo./ Fechada à chave a humanidade janta./ Livre, vagabundo/ dói-lhe um sorriso nos lábios. Canta.// Sonâmbulo, magnífico/ segue de esquina em esquina com um fantasma ao lado./ (...) Febre alta, violenta/ e dois olhos terríveis, extraordinários, belos./ Fiel, atenta/ a aranha leva-o para a cama arrastado pelos cabelos/


António José Forte



a i z e o p...

meus dentes já podres caem
e não há nada que eu possa fazer
dizem os entendidos que talvez seja
a ação do tempo em mim

espero a morte indigesta do meu eu
o infinito não me merece e eu
não me importo com ele
este desgraçado que nem mesmo existe

mas continuo e ela não vem
talvez nem mesmo ela exista
espero incerto, mas convicto
de que um dia não mais serei

que venha o vento conflituoso em mim...

Herman ou Niko.