segunda-feira, 11 de agosto de 2008

& não há fim...

PARTE V

O baile...

Erasmo seguiu e encontrou gentes; Machados, Barretos, Carlos, Clarices, , Adélias, Ferreiras, Antonios, Marias, Kerouac, Tchechov, Poe, Pessoas ....
Não entendia, no entanto, o porquê de nenhum deles ir ao baile. Não sabia ele que aqueles homens, mulheres e loucos não possuíam máscaras.
E, assim, sucederam-se os e(ventos) em rajadas tristes, carruagens passavam em sinais conduzidas por homens também tristes.
E a loucura, então, entristeceu-se e o mundo silenciou mais uma vez em metáforas brancas. Alaúdes transportavam silêncios.
Erasmo, único em seu grito abafado, rasgava em tentativas insanas o asfalto, e, passados longos anos do poema, procurava, em meio à náusea, a flor que insistia em não desabrochar.

...à Xapecó com tristeza.

Antonomásia.

* * *

EMBRIAGAI-VOS

É NECESSÁRIO estar sempre bêbado. Tudo se reduz a isso; eis o único problema. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem cessar.
Mas – de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a todo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder:
- É a hora de embriagar-se! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.

Charles Baudelaire

(Pequenos Poemas em Prosa)

Cão andaluz

Meio-dia em ponto. Sol a pino incidindo pontualmente entre os dois, dividindo simetricamente o
banco da praça e tudo aquilo que ligava um ao outro. Desperta, ela observa um cão que se aproxima dele
querendo brincar. Põe suas patas sobre as pernas dele, que distraído, retribui acariciando com força a
cabeça do cachorro. Ela sabe que é uma fuga, um subterfúgio para adiar aquele momento. Mas ao
mesmo tempo sabe que não importa, pois já está tudo acabado. Num gesto que diz mais que palavras,
bate as mãos nas pernas, chamando o cachorro, que de um pulo sobe em seu colo. Nenhuma palavra, os
três apenas contemplam o dia. Agora que o sol já não incide mais exatamente entre os dois, ela recosta a
cabeça em seu peito, fecha os olhos e suspira, enquanto ele beija seus cabelos pela última vez. Ela sabe
que foi melhor assim. Ambos levantam, resolutos mas tranqüilos, e cada um caminha em direções
opostas. Ela não olha pra trás, mas ouve o cachorro latindo. Parece procurar o sol.

André Timm