Meio-dia em ponto. Sol a pino incidindo pontualmente entre os dois, dividindo simetricamente o
banco da praça e tudo aquilo que ligava um ao outro. Desperta, ela observa um cão que se aproxima dele
querendo brincar. Põe suas patas sobre as pernas dele, que distraído, retribui acariciando com força a
cabeça do cachorro. Ela sabe que é uma fuga, um subterfúgio para adiar aquele momento. Mas ao
mesmo tempo sabe que não importa, pois já está tudo acabado. Num gesto que diz mais que palavras,
bate as mãos nas pernas, chamando o cachorro, que de um pulo sobe em seu colo. Nenhuma palavra, os
três apenas contemplam o dia. Agora que o sol já não incide mais exatamente entre os dois, ela recosta a
cabeça em seu peito, fecha os olhos e suspira, enquanto ele beija seus cabelos pela última vez. Ela sabe
que foi melhor assim. Ambos levantam, resolutos mas tranqüilos, e cada um caminha em direções
opostas. Ela não olha pra trás, mas ouve o cachorro latindo. Parece procurar o sol.
André Timm
4 comentários:
Achei que fosse Clarice...
Intenso, estremecedor, maraaaavilhoso. Você continua o mesmo Timm... com carinho, Tonhão.
hehehehehe, gostou do comentário do Tonhão acima? hehehe... agora falando sério. Ótimo texto Timmm, parabéns.
Fabiana, essas reticências me deixaram na dúvida: foi uma crítica ou um elogio?
Postar um comentário