quarta-feira, 4 de julho de 2007

Conto...

PARA PROVAR QUE TODOS, PROVOCAÇÕES À PARTE, ESTAMOS DE FATO LIQUIDADOS.

Bem, foi mais ou menos assim que aconteceu: eu tinha dezoito anos e nenhum juízo. Na minha cabeça, além de correntes de ar, vagavam imagens de louras putonas e exuberantes com tetas grandes e apenas uma idéia fixa: ser escritor. Revelei isso para um amigo certa vez.
- Vou ser escritor. - Nós bebíamos um uísque mata-ratos do gargalo no alto de uma escada estúpida encravada num morro de uma cidade fria e imóvel do sudoeste do Paraná. Tinha uns trezentos degraus, a escada, e era toda de pedra. proporcionáva-nos uma bonita visão de boa parte da city quando não havia nenhuma cerração. Naquela noite ela estava lá, a maldita cerração, e não havia nada que pudessemos fazer quanto a isso. Fernando mijava cambaleando à beira do precipício. Era um bom camarada, Fernando, mas sentimental demais. Havia lido alguns filósofos da linguagem e enlouquecido. Mas eu não me importava. Quem neste maldito mundo não havia lido algum filósofo da linguagem e enlouquecido? Ambos estávamos ali por apenas um motivo: mulheres. Ou a falta de. Ele descorneado porque a puta, era assim que se referia à ex, o havia trocado por um açougueiro que além de tudo era poeta.. Eu, por simplesmente desconhecer na época a revista MULHER: Teoria e prática, do grande Efraim Medina Reyes.
Acho que foi esta declaraçao: "vou ser escritor", que fez Fernando perder o equilibrio. Talvez a lembrança do açougueiro-poeta trepando com sua namorada toda lambuzada de sangue em cima de vitelas e paletas congeladas tenha precipitado a queda. Estes espaços em branco, vocês sabem, pertencem a Deus. Bom, o resto dá para adivinhar.
Fernando ficou três semanas no hospital. Ele sofreu algumas fraturas nos braços, pernas e em outros membros que não lembro o nome. Mas nada que o fizesse esquecer. Sugeri a ele, depois que voltassea andar, passar longe de açougues e da sessão de congelados nos supermercados, pelo menos até que as coisas esfriassem. Ele me jurou, depois que voltou a falar, que iria se matar com uma faca de cortar carne para que ela nunca mais esquecesse do que fez. Eu disse para deixar pra lá, que outros açougueiros viriam. Me mandou tomar no cu e quis partir para a briga. Mas seus ossos doiam e seus olhos e seus cabelos, então desistiu.
Tempos depois, Fernando cumpriu a promessa. Mas usou uma faca GINSU. O açougueiro lançou seu primeiro livro de versos "Das tripas ao coração", que foi bem recebido pela crítica e chutou a ex. Eu estava sozinho e a convidei para passar um fim de semana comigo, para esquecer. Ficou seis meses. Não lembro de outra época em que fui mais infeliz.

Parte dois

- Agora ele cai!
Girei para a direita, mandei o direto. Caprichei bastante. Eu era bastante caprichoso naquela época. E tinha tanta certeza! Aquele filho-da-puta não aguentaria mais um round.
Meu treinador gritou lá do corner:
- Ele vai cair! Ele vai cair!
Dei uma dançadinha na frente dele. Só por onda. Eu tinha um bom jogo de pernas, era ágil e leve como um guepardo. E estava inteiro. A multidão estava de pé, enlouquecida. Gritava por mais, exigia mais. Queriam o coração do desgraçado numa bandeja de prata. Eu, concentrado, olhos profundos e atentos, esperava o momento de fechar a luta. Iria ser carregado nos braços, todos querendo tocar os bíceps santos que derrubaram o campeão. Um dom de Deus, sem dúvida alguma. Nunca mais pagar a conta em restaurantes. Mesa exclusiva, mulheres exclusivas em quartos exclusivos dos grandes hotéis do mundo. João Fantini, além de grande escritor, campeão mundial de boxe.
Dei mais uma dançadinha. Ele estava morto. Ameacei com a esquerda, um jab, e soltei um poderoso upercut. Forte. Impávido. Vigoroso. Oh, Deus!Deus! Deus! Era a glória.
Ele se esquivou. Gingou o corpo e encontrou uma brecha. Soltou o braço. Que lutador! Como eu poderia prever aquilo? Me atingiu acima do olho direito. Depois um gancho na ponta do queixo. Ai, ai. Uma explsão pontiaguda como lascas de metal irrompeu pelo meu cérebro adentro. Dor. Dor. Muita dor. Escuridão. Zumbido nos ouvidos. E na falta de coisa melhor para fazer, eu sangrei. Depois beijei a lona, velha conhecida. Os cinco bêbados que assistiam a luta vaiavam. Fossem para o inferno. Treze lutas. Treze derrotas. Todas por nocaute. Um recorde a ser batido, sem dúvida.
Acordei algum tempo depois, numa ruela imunda ao lado do ginásio. Não conseguia ver direito, os dois olhos inchados. Meu treinador me abandonara ali para sangrar até a morte. Pela décima terceira vez. Ele voltaria, eu tinha certeza. Na minha camisa empapada de sangue um papel pendurado. Com dificuldade consegui ler: "PESO MOSCA-MORTA". Saí atrás de um bar. Precisava de um trago. Bem, já era um começo.

Continua...

4 comentários:

Anônimo disse...

De quem é o maldito conto? Não assinaram. É bem escrito mas recheado de sarcasmo e bizarrices. Estão baixando o nível, não acham?! Algumas de nós não gostam de literatura marginal, preferimos os clássicos. Algumas, as da ala mais radical gostam disso, mas nós, as tradicionais repudiamos. Estamos de olho em vocês malditos. Beijos no rosto!

Diógenes, o cão. disse...

Cara Juliane,
Realmente foi um descuido meu.Meu nome é Coiote Martinez e fui convidado para fazer parte do blog. Bem, quanto a não gostar do texto, é um direito teu. Mas dizer que baixaram o nivel? Tudo no texto é baseado em experiencias pessoais e, como vc viu, doloridas.Sei que a literatura autobiografica é considerada inferior por muitos, principalmente por "tradicionais" como vcs.Vide Bukowski,Fante,Mirisola entre outros. Mas obrigado pelo comentário que aliás, está muito bem escrito também. Beijos na boca, Coiote Martinez.

ps: Mas que diabo significa LMCP?

Anônimo disse...

LMCP querido desgraçado, pode significar várias coisas. Quer realmente saber? Pesquise! Não somos secretárias de doutorzinhos ou metidos a escritores famosos para dar informações. Experiências pessoais ein?! Que dó de ti pobre diabo! Mas é suportável, escreves bem, independente do conteúdo. Está bem, só passamos para uma visitinha rotineira. 'Rotina', como dizem os de farda por aí. Beijos no rosto!

Anônimo disse...

"Algumas de nós não gostam de literatura marginal, preferimos os clássicos. Algumas, as da ala [literatura dividida em alas...] mais radical gostam disso, mas nós, as tradicionais [não me diga que o Virgilius foi o teu professor?] repudiamos." Vou discordar do Coiote, isso claramente não está bem escrito... Escrita de mais cotidiana para vir de uma pessoa "tradicional-clássica". Resta saber qual tradição é essa...
"LMCP querido desgraçado, pode significar várias coisas." Nada de sarcasmo... Não é?
Por favor, Juliane, nada contra a Literatura Clássica, só contra a arrogância. Sê clássica, mas coloca vírgulas no lugar em que elas devam estar. Pelo memos, assim, não fica tão incoerente a tua escrita com a tua posicão diante da literatura (ala! Clássica!).

CP