sábado, 24 de novembro de 2007

***************************
***************************

A bolsa firme ao ombro e sob a palma alva era segurada. Era uma bolsa antiga feita de couro e costurada com barbante. Continha documentos importantíssimos. Meu avô a mantinha a sete chaves. Dizia que não podíamos bisbilhotar, pois era ali que ele guardava seus cobres, com os quais nos presenteava seguidamente.
Ao lado de uma encruzilhada meu avô esperava o ônibus. A longa faixa preta de asfalto quente ligava dois horizontes. Cada veículo que surgia no ponto de fuga era a expectativa do transporte se aproximando. Um homem firme com sua bolsa.
Meu avô tinha postura de herói. Era grande e sempre fazia o que queria. Falava como quem sempre sabia o que estava por acontecer. Gostava de bater forte com o pé no chão, para que pudéssemos ouvir ao longe o barulho do taco de sua bota. Quando um de nós agarrava em sua bombacha, ele logo nos erguia e segurava entre seus braços. Cantarolava e embriagado dançava com minha avó. Naquele momento mantinha uma postura séria na encruzilhada por onde havia de seguir de ônibus.
Meu avô era Xirú, e o resto não importava.

(marcio serpa)

2 comentários:

Anônimo disse...

buenos recuerdos! belas imagens.. nostalgia e vida.. grande Márcio, grande!

Telma Scherer disse...

maravilha ver o serpa serpenteando as imagens com essa economia, esse tino de não dizer sobra nenhuma. muito bons os dois textos. que bom reencontrar vocês na esquina da net. bjs e bons ventos a todos!