quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Cheguei à conclusão, depois de muito ponderar sobre ela, que não tenho todos os motivos para ser a pessoa (se não digo mais, pelo menos estou entre as dez) mais feliz do oeste do estado. Cultivo quatro amigos, os únicos leitores que podem estar, acredito eu, neste momento, ou em qualquer outro, lendo estas baboseiras. Acabei de perder minha gatinha, uma siamesa chamada Amélie, de pneumonia ou desgosto, a veterinária não conseguiu dar um diagnóstico preciso. Ela conviveu comigo uma semana, a gata, não a veterinária, antes de morrer. Minha namorada me proibiu de beber, minha conta está no vermelho e minha moto está na U.T.I. Tirando estes pequenos inconvenientes, nunca em minha vida estive pior.
Moro em um edifício chamado Bianca. Não sei até hoje porque raios deram este nome. Ele é bege e com as sacadas cor de laranja apodrecendo. Eu estou instalado no apartamento 406, ao lado de não sei quem e na frente de coisa nenhuma. Eles parecem não se importar. Eu menos ainda. Meus amigos, é bom que se fale um pouco deles, me consideram o melhor poeta do bairro. Considero isto uma façanha, em se tratando de uma cidade praticamente imóvel. Meus fiéis seguidores às vezes me deixam só. Como agora, em que estou sozinho na companhia de Janis, “Ball and chain”. Tento inutilmente imitar sua voz, mas sei que para isto precisaria de duas garrafas, pelo menos, de um uísque qualquer.
A veterinária decidiu me presentear com outra gata. A assistente dela veio trazê-la. Não sei qual das duas como primeiro. Acho que pela hierarquia, a assistente. Vou chamá-la de Aime. A gata, não a assistente. Quando toca a campainha eu abro a porta. Ela despacha a mercadoria em meus braços e sai em disparada. Nunca na minha vida hei de entender os gatos. Voltando aos amigos, que distraidamente esqueci algumas linha atrás, só posso defini-los por insanos. Por precaução, usarei nomes fictícios. Não tanto por temer quanto às suas vidas, mas sim pela minha.
Niko e Liza formam o casal mais bonito que eu já vi em minha vida. Estão unidos, antes de tudo, pela música, pela poesia e pela pele. Não sei se por esta ordem direta. Mas por alguma ordem, disto tenho certeza. Às vezes vejo Niko perambulando por alguma rua de Tihuana, iluminado por um sol só dele, roupas de algodão e a mente cheia de idéias. Vejo Liza, vejo os sonhos despencando dos seus cabelos, para baterem no asfalto incendiado por um sol onírico. Vejo Werther declamando Augusto pelas madrugadas insones tocado por leve chuva. Vejo Amélie no céu dos gatos. Vejo-me refletido no fundo do vaso, antes do meu vômito transformar tudo em ondas incompreensíveis.
Diógenes Gluzezak

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim! por certo há um céu dos gatos. Gosto dessa idéia. Dentre tanta coisa torta nesse mundo vasto e insano, ao menos que se garanta um paraíso...
Miguelzinho também deve morar lá. Possivelmente são parceiros, de boemia e de sonecas, ele e a sua Amelie.
;]

Beijo Tilika!