quarta-feira, 20 de junho de 2007

Crônica literária

Um altar para...

Meu nome... Bem, por enquanto isso não importa. Ou não importa muito. O que faço... Ah, disso tenho de falar! É algo que não pode passar em branco, assim como o final da novela ou a ida rápida ao bar preferido. Para todos os efeitos sou um sedutor. Minha especialidade? Seduzir. Agora mesmo, enquanto escrevo essas linhas, que cá entre nós, são tão ou mais sedutoras que eu, algumas meninas babam sobre mim, os olhos vidrados, tomadas por essa espécie de torpor que somente seres iluminados como eu são capazes de causar. Para dizer a verdade, mereço um altar, mas não um altar qualquer desses que encontram-se nas igrejas destruídas, não, não. Quero um altar de sacrifícios, como dos antigos cultos pagãos. O que quero em oferenda? Suas mentes, suas já diluídas mentes para minha coleçãozinha particular. Desejem-me! Carreguem-me junto ao seio, ao pé do ouvido, vamos de mãos dadas rumo a um entorpecimento maior.
Sou um profissional. Penetrar em seus tolos corações não é tarefa para principiantes. Por isso me transmuto, altero formas, cores, tamanhos. Sou o mesmo e nunca o mesmo. A música que sai dos meus lábios para seus torpes ouvidos encanta. Naufragaria navios se forças para tanto tivesse. Mas tenho cá uma carga de modéstia. Basta naufragar seus cérebros no poderoso absinto de meu cristal líquido. Estou cada vez mais pequeno, notaram? Mas esse detalhe, de tão pequeno, não lhes passa despercebido. Faz parte do meu show. A multiplicidade de minhas funções aumentou na mesma proporção em que eu diminuí. Convenhamos, sou ou não sou irresistível? Gosto de meninos e meninas, estou em todas as baladas descoladas, me carregam a tira colo, sou idolatrado, invejado, cultuado... Ufa!
Canonizar o Papa? Madre Tereza de Calcutá? Ora, convenhamos! Existe alguém hoje com tamanha capacidade de curar como eu? Não estou falando de cânceres, carcicomas, hemorróidas, conjuntivite, gastrite, bursite, não! Isso é coisa para charlatões de quinta categoria. Meu negócio é impedir que vocês pensem. Mas não creiam que estou sozinho nessa empreitada. Também tenho meus apóstolos. Chamam-se: televisão, jornalão, internet’s, o Paulo Coelho, e alguns escritores chapecoenses, mas esses eu descartei, queriam competir comigo, vê se pode? Com o novo deus? O que traz a mensagem de uma nova era.
Curvai-vos pois, servos engalanados da ignorância, que hinos soem de suas pútridas bocas, e que depois deles, apenas um nome se ouça: o meu... ou de meus pseudônimos: Nokia, Motorola... Mas se me chamarem celular, eu atendo.

A. Diógenes Gluzezak

6 comentários:

Anônimo disse...

parabéns pela crônica, muito interessante...
abraços,
...

Anônimo disse...

Apesar de ser um texto comum estruturalmente, ou seja: começa com um "ser misterioso" e termina por dizer descaradamente de quem se trata, é um texto que merece ser lido. Ideologicamente feito para aplicar "visões" decadentes, o texto tem escrita jovem. Lembre-se: contra-ideologia é uma forma de ideologia... Parabéns!

Diógenes, o cão. disse...

Aquele que escreveu o texto agradece pela crítica feita por anônimo.Realmente, reelendo-o depois de muito tempo, percebo suas deficiências. E uma é justamente esta que você apontou. Obrigado,continue colaborando.

Diógenes.

Anônimo disse...

Grande conto amigo! Por aqui existem diferenças distantes umas das outras, mas até então, todas merecedoras de aplausos. Nisso, aplaudo-te!

Anônimo disse...

...ou Crônica, que seja, não menos ou mais que um conto.

Anônimo disse...

Muito bom, parabéns!